sexta-feira, novembro 26, 2010

Homem Feminista em Moçambique, alguns desafios de o ser


Por: Gilberto Macuácua & Celma Elizabeth Menezes

Ser Feminista, significa abraçar a causa que preconiza a igualdade de direitos entre o homem e a mulher.

Em Moçambique, os movimentos feministas tem sido compostos primariamente por mulheres advocando pelos dos direitos humanos das mulheres. De há dois anos para cá, começaram a surgir alguns homens, ainda que em número reduzido, advocando para os mesmos propósitos.

Importa salientar que, estes movimentos alcançaram várias conquistas, dentre elas se destaca a aprovação da Lei contra a violência doméstica contra a mulher pela Assembleia da República em Julho de 2009, mesmo com uma caminhada que se mostrou bastante espinhosa, dura e difícil.

Ao contrário do que acontece em alguns países onde os homens e mulheres que integram estes movimentos, entram em choques profundos, em Moçambique a relação tem se mostrado saudável e apreciada pelas mulheres, o que favorece para um bom ambiente de trabalho e boa colaboração entre as duas partes.

Contudo, alguns desafios colocam-se diante dos homens feministas, a começar pela interpretação que tanto homens assim como mulheres dão aos discursos destes quando aparecem a defender a igualdade de direitos entre homens e mulheres ou mesmo a condenarem actos de violência perpetrados por certos homens contra as suas parceiras.

A partida, certos homens e mulheres mostram uma certa desconfiança sobre a masculinidade dos homens feministas, porque no entender destes, os feministas são dominados pelas mulheres e não estão alinhados aos padrões “normais” de masculinidades, levantando muitas vezes à questionamentos tais como:  Será que este é um homem normal? Será que ele é tem medo da mulher? Ele é dominado pela mulher?, enfim...

O outro desafio para alguns destes homens feministas é, quando as mulheres sentem que, possivelmente, é com este tipo de homem a quem podem recorrer para a solução de certos problemas de natureza conjugal, muitas vezes, não é bem compreendido, tanto do lado dos parceiros das mulheres assim como das parceiras dos homens.

Nós consideramos absolutamente normal que esses homens e mulheres pensem desta maneira, pois, a forma como somos socializados orienta-nos a esta forma se ser, estar e ver as coisas.  Nascemos e crescemos, imbuídos de uma série de normas que devemos seguir, umas direccionadas aos rapazes e homens e outras às raparigas e mulheres.

As normas de género rezam que, os homens, devem ser fortes, corajosos, dominantes, enfrentar riscos, executar trabalhos pesados, etc. enquanto que se espera que as mulheres devam ser obedientes, pacientes e comportadas. Espera-se igualmente que as mulheres executem tarefas “leves”, se bem que nós, achamos que estas executam tarefas um tanto pesadas no fórum doméstico, como por exemplo: cuidar do marido e dos filhos, cartar água, apanhar a lenha, (o que pressupõe em algumas situações as mulheres terem que percorrer longas distâncias, exposta a sol forte, possivelmente com uma criança ao colo), e ainda assim, são vulgarmente apelidadas de “sexo fraco”.

A experiência mostra que, o discurso dum homem feminista num meio onde estão homens ou homens e mulheres tem tido resultados positivos, uma vez que, alguns homens rendem-se e mostram-se disponíveis para se juntar aos esforços conducentes à combate das desigualdades de género.
Infelizmente, são poucas as iniciativas direccionadas a envolver homens e mulheres na reflexão dos padrões actuais de género particularmente àquelas que tem algum efeito nocivo para o bem estar das mulheres, crianças, homens, famílias e da sociedade de um modo geral.

Um dia destes, um colega nosso interveio num episódio de agressão física perpetrado por um homem contra sua esposa. O agressor interpretou a atitude como se o colega tivesse um “caso” com a esposa uma vez que, no entender deste, aquela situação só dizia respeito ao casal e não deveria envolver terceiros. É importante salientar que, este tipo de julgamento é extensivo às próprias parceiras de alguns homens feministas,  e isso constitui um desafio para estes.

Um outro colega, tem sido questionado pela sua mãe e irmãos pelo facto deste partilhar algumas tarefas domésticas com a sua esposa, tais como: fazer limpezas, cozinhar, lavar e engomar a roupa. O casal afirma que vive uma relação harmoniosa que em parte resulta desta partilha de tarefas e afirma igualmente, passar mais tempo junto, conversando sobre os seus projectos de vida. A esposa relata exercer menos esforços físico, ter mais disponibilidade de tempo para fazer o que gosta e sente-se mais amada dentre outras coisas boas.

A mãe e os irmãos acham que ele, está sendo dominado pela esposa, e que ela está usando a “magia negra” para exercer este domínio pois, a expectativa individual e familiar é de que, este tipo de tarefas só devem ser executados por mulheres. Este facto, tem estado a gerar uma desarmonia entre o casal e a família do esposo. Este tipo de situação, remete-nos a concluir que, mostram-se necessárias intervenções que utilizam uma abordagem transformativa e integrada capaz de auxiliar o indivíduo (homem ou mulher), a família, a comunidade e a sociedade no geral a conhecer os prejuízos associados à certos padrões de género, assim como as benefícios que podem advir da adopção de formas mais equitativas de ser e estar entre homens e mulheres.

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