sexta-feira, novembro 26, 2010

Poligamia e Implicações da União de Facto


1.      Por: Gilberto Macuácua


Gostaria de parabenizar a TV Record Moçambique pelo seu Programa “Contacto Directo” que procura abordar questões sociais sem tabús nem preconceito.

Na sexta-feira do dia 11 de Setembro de 2010, assisti ao Contacto Directo que trazia 2 temas de fundo “Poligamia” e “implicações da União de facto”.
Os dois temas são sem dúvida muito apaixonantes tanto para muitas mulheres assim como para muitos homens pelo seguinte:

Poligamia
- As mulheres são as que sentem em primeiro o impacto negativo que advém da partilha do mesmo homem e a seguir os/as filhos/as. Claro;
- Para os homens, nada melhor que ter uma mulher submissa em todos os aspectos e isso faz os sentirem-se mais homens ou homens de verdade.

União de Facto
- As mulheres são as que sentem em primeiro lugar os impactos negativos que advém da união de facto e a seguir os filhos. Óbvio;
- Para os homens, nada melhor que uma mulher obedecer à todas as suas vontades e isso os faz sentirem-se mais homens ou homens de verdade, neste caso, não querem simplesmente oficializar a união na conservatória/registo civil.

Enfim, há muito mais que se possa dizer mas, como podemos notar com esta pequena leitura é que, estamos perante uma desigualdade de género onde o homem aparece como o que detém todo o poder e que por via disso tem o “direito” de fazer tudo quanto lhe apetecer contra um outro Ser (mulher) que diante das normas sociais estabelecidas, ela só deve obedecer, ter paciência, entender o homem e como se não bastasse fingir ser feliz com tudo isto.

O programa Contacto Directo da TV Record Moçambique mostrou 4 casos reais de Maputo – Moçambique que estão ambrelados aos 2 temas em questão:
- Uma mulher que vive em regime de união de factos cujo o marido decidiu vender a casa deles;
- Uma mulher deixada à sua sorte com 3 filhos menores por um homem com o qual viveram em regime de união de factos e este estando actualmente a viver com uma outra mulher no mesmo regime já na vizinha África do Sul com a qual tem 2 filhos menores;
- Uma mulher viúva com 1 filho maltratada pela família do marido falecido, arrancada os bens dela, que obteve junto do marido falecido com o qual viveram em regime de união de factos;
- Dois homens com 2 mulheres cada, isto é, polígamos.

Ficou claro na reportagem do Contacto Directo, nos rostos destas 7 mulheres, pelas suas próprias palavras e suas expressões que, não era certamente com aquilo que estas sonhavam viver nesta vida onde tudo começou a mudar quando conheceram e passaram a viver com os homens “delas”. O interessante era a forma como os tais homens encaravam estas situações excepto o falecido. Obviamente!
- Os dois homens polígamos diziam que estavam felizes e suas esposas também, que eles eram “experientes” e sabiam fazer uma boa gestão da situação o que favorecia para um bom ambiente de convivência entre elas e eles. Por outro lado as mulheres ja não pensavam da mesma maneira e ficou claro que elas não estavam felizes com a situação.

 O terceiro homem, o que deixou a mulher com 3 filhos para viver e trabalhar na África do Sul com outra com a qual tem 2 filhos, mostrou muita insensibilidade perante o Juiz do Tribunal Comunitário ao dizer que não pode fazer nada porque não tem condições para tal, o mesmo que dizer “que ela aguente-se porque eu não estou nem aí” ;
- Mulher da casa vendida pelo marido, mostrava-se desesperada perante as camêras, assim como a mulher viúva enquanto isso a sogra não admitia os maus tratos que perpetrava contra a jovem mulher viúva, mas, para quem estava atento ela deixou cair a máscara quando lhe perguntaram sobre os bens que ela e seus filhos arrancaram à jovem mulher viúva.

Agora, entramos na zona de conflito onde as mulheres desses homens sofrem e os homens dessas mulheres alegram-se.

Imagine! Se você aparece a dizer que isto não está certo e precisamos de mudar, precisamos de respeitar os direitos humanos, da mulher porque só assim é que podemos construir uma vida mais harmoniosa com as nossas mulheres, só assim podemos ter mulheres mais felizes, nós podemos ser mais felizes do que somos actualmente. Imagine!

Mas sim. Se na nossa vida e vivência, respeitarmos os direitos humanos, o que pressupõe tratar o outrem do mesmo jeito que gostaríamos de ser tratados, isto é, antes de fazermos algo contra uma mulher pensarmos assim: se fosse eu a Mulher e ela o Homem, eu gostaria de ser feito isto?. Depois tomamos a melhor decisão.

Sei que algumas pessoas, sobretudo alguns homens que estão a ler este artigo devem estar a pensar/dizerem: - Este Gilberto deve estar louco, ou por outra – este Gilberto não sabe o que diz. Eu só recomendo que você faça essa reflexão fazendo-se a pergunta que coloquei anteriormente: Se eu fosse a mulher e ela o Homem. Eu Gostaria...?

Meus compatriotas, estamos aqui perante uma grave violação dos Direitos Humanos e da mulher. Estamos perante um flagrante de violência contra a mulher. Falando em violência, à que recordar que existem vários tipos de violência dentre várias á física, psicológica, económica, estamos também perante um flagrante da desigualdade de género onde o homem tem maior poder e a mulher sem e as consequências disso.

Voltando a reportagem, acho que a intenção da Televisão foi boa, mas confesso que esperava mais do que vi naquele Contacto Directo porque o que mostraram é sabido por todos e não constitui nenhuma novidade no nosso país. Esperava por exemplo um aprofundamento na abordagem dos casos, com perguntas que fossem fazer aqueles homens reflectirem à luz dos direitos humanos os seus actos, que pedissem para que eles se fizessem a pergunta “Se eu fosse a mulher”, que mais consequências advém destas atitudes causadas pelos homens que de certa forma são legitimadas uma vez que, estão ambreladas pelas normas sociais e sobretudo as de masculinidade. Esperava muito mais...  contudo, mais uma vez, está de parabéns a TV Record Moçambique pela intenção e espero poderem contribuir mais e mais para a redução das desigualdades de género e violência contra as mulheres que por consequência, as crianças também.

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