sexta-feira, novembro 26, 2010

Reportagens sobre a violência doméstica em Moçambique


Por: Gilberto Macuácua


Fiquei muito preocupado ao ver um dos temas de destaque do Jornal da Noite da STV do dia 22 de Setembro de 2010 que dizia: “1.000 homens foram vitimas de violência doméstica” este ano em Moçambique.

Caros/as 

A violência doméstica é um problema grave e que afecta muitos/as moçambicanos/as e não só. Vários esforços tendentes a eliminar este mal estão sendo levados a cabo pelo governo e várias Organizações da Sociedade Civil, ONG’s nacionais e internacionais e mesmo por pessoas singulares que se identificam com causa.

Há que salientar que, todos esses esforços, ainda são incipientes para o tamanho do problema em Moçambique mas, grandes avanços foram conseguidos por estes actores sociais que aproveito este espaço para congratular-lhes. Um dos grandes ganhos conseguido, é a aprovação da Lei de Violência Contra a Mulher no ano passado (2009) pela Assembleia da República e que já está em vigor neste momento na República de Moçambique. Esta lei protege a todos, tanto homens assim como mulheres.

Na realidade, as mulheres vítimas de violência são ainda em maior número comparativamente aos homens. Os últimos dados fornecidos pelos Gabinetes de Atendimento das Mulheres Vítimas de Violência dão conta de que só neste ano, foram atendidos cerca de 11.000 casos de pessoas vítimas de violência dos quais 1.000 são homens. Estes números correspondem apenas aos casos atendidos nestes gabinetes, arrisco-me a dizer que na realidade, os números são muitos mais elevados ainda, tendo em conta que a maioria da população moçambicana ainda não tem acesso a estes serviços. Portanto, 10.000 mulheres vítimas de violência doméstica não mereceram o destaque no jornal da noite da STV.

Por que será que a STV decidiu dar maior destaque a 1.000 homens ao em vez de 10.000 mulheres? Será que, os homens são mais importante que as mulheres? Tenho a sensação de que esta forma de apresentar os factos fortalece cada vez mais as correntes de desigualdade de género o que pode contribuir para a sua perpetuação. Não sei se a ideia era, chamar à atenção dos telespectadores para a reportagem todavia, acho que, a noticia seria mais sensibilizadora se tivesse destacado as 10.000 mulheres. Não quero com isto dizer que não devemos reportar casos em que o homens sofrem a algum tipo de violência, espero que entendam a minha preocupação. Até porque, os homens também sofrem violência mas, há que perceber que, a maioria desses homens são violentados por alguém que eles mesmos a violentaram antes. A mulher reage muita das vezes, a uma ou várias atitudes do homem e quando se chega a esse estágio, o homem esquece tudo o que fez contra ela e concentra-se no que está se passando naquele momento e aí fica-se com a ideia de que a mulher é que é o “mau da fita”. Não só o homem mas a sociedade também procede da mesma forma. 

A mulher é condenada 2 ou 3 vezes mais, quando comete um acto de violência contra um homem do que o contrário. Vezes sem conta, chegamos até a dizer que é normal o homem bater numa mulher. A maior parte dos homens violentados que procuram os gabinetes de atendimento queixam-se de terem sofrido a violência psicológica, do tipo, a mulher o abandonou ou então ela deixou-o com os filhos e ele não está capaz de os criar sozinho,  pouquíssimos são ainda aqueles que se queixam de ter sofrido uma agressão física. Ao contrário da mulheres muitas vezes procuram os gabinetes já num estado de saturação, onde já sofreram quase todas as formas de violência incluindo a física. Os Órgãos de Comunicação Social tem um papel muito importante na sociedade, tem a nobre tarefa de informar, educar e comunicar. Pelo que, exige-se deles a observância de alguns princípios no exercício das suas funções principalmente quando os assuntos são, problemas sociais bastante sensíveis tais como a Violência, o HIV/SIDA, e outros.

Gostaria de apelar aos comunicadores para que tomem a peito estes aspectos e sobretudo que se lembrem sempre de que, possuem uma ferramenta bastante poderosa para comunicar e estão numa posição privilegiada para estimularem mudanças, neste caso, mudanças de comportamento social de indivíduos.

 Fico feliz quando estes casos sobre tudo de violência são denunciados, falados, reportados, enfim, quanto mais trazidos à luz, mais atenção chamam e mais consciência também podem chamar dependendo da forma como eles são tratados.

Quero por isso, felicitar a STV e outros Media por procurarem trazer informações/notícias sobre este fenómeno e queria desde já, apelar para que se dê mais atenção ao mesmo, pesquisando mais, criando debates, difundindo informações que possam efectivamente contribuir para a consciencialização das pessoas, desde o camponês, operários, empresários, professores, políticos, etc e influenciar para adopção de políticas adequadas e sua operacionalização.

Todos nós somos chamados a contribuir para a redução das desigualdades de género e da violência.

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